Um cristão pode ler ficção?

A Leitura como Essência da Vida Cristã

Nós, cristãos, somos um povo guiado por um livro, e a leitura é parte essencial de nossa vida. Deus nos deu a Bíblia e, através dela, se revela. Com seus 66 livros, a Bíblia Sagrada descortina os planos de Deus através de sua aliança. Sendo assim, se um cristão deseja conhecer a Deus, deve dedicar uma boa parte do seu tempo à leitura da Palavra. Primeiramente, um cristão deveria amar a leitura da Palavra de Deus. Em segundo lugar, esse cristão pode buscar outros livros que a expliquem, como obras de teologia. Mas, e quanto a outros gêneros? Será que um cristão pode se envolver com a ficção e a literatura “secular”?

O Mito da Divisão entre Sagrado e Secular

Infelizmente, existem muitas pessoas que demonizam tudo o que é feito fora da igreja, e isso acontece com a leitura também. É comum, mesmo em nossos dias, vermos pessoas presas numa “caixa” quando o assunto é o que pode ou não ser lido. Mas, se tudo que é secular é “do diabo”, como dizem alguns, então deveríamos abrir mão da maioria das coisas, não é mesmo? Isso nos leva a um grande problema, pois deixar tudo que é secular de lado é prescindir do nosso sustento e de muitas outras coisas boas que Deus tem a nos oferecer.

É interessante como a resposta para essas questões já havia sido dada pelos reformadores. Segundo eles, não deveria existir uma divisão entre sagrado e secular. Aqueles homens, já em sua época, acreditavam que tudo era feito para a glória de Deus, de forma que, se iam para o púlpito ou para seus ambientes de trabalho, estavam fazendo ambas as coisas para a glória de Deus Pai. A meu ver, devemos aplicar isso também à atividade da leitura.

Mas, o que é ficção?

Ficção é uma forma de arte onde o autor inventa personagens, enredos e cenários, sem a obrigação de retratar a realidade. É por isso que esse gênero da literatura é tão fantástico, por dar espaço para o autor criar sem muitas barreiras. Não é como uma biografia, por exemplo, na qual todos os fatos devem ser baseados na verdade. A ficção, então, abre portas e janelas para outros mundos, e através dessas histórias, o leitor pode enxergar com os olhos do autor.

Uma das minhas ficções prediletas é a obra de J.R.R. Tolkien, “O Senhor dos Anéis”. Tolkien era um católico e a forma como enxergava a fé impactou sua escrita. Se você for um leitor atento, perceberá grandes temas da teologia dentro de sua obra, como a amizade, a luta do bem contra o mal, a natureza e a criação, entre outras coisas.

Outra obra escrita da mesma forma foi “As Crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis. Ele era membro da Igreja da Inglaterra (Anglicana) e foi influenciado através de muitas conversas com seu amigo Tolkien. Sua obra também é repleta de elementos do cristianismo, como Aslan, que é uma representação de Cristo naquele mundo fictício.

Citei acima duas obras de autores com ligações com o cristianismo, porém um cristão pode e deveria ler também outros tipos de ficção, mesmo de autores que não compactuam da mesma fé. Recentemente, li o livro “Frankenstein”, de Mary Shelley. A história é ótima, embora escrita por uma feminista.

Isso não me impediu de ler porque, através da história, pude enxergar o mundo daquela ficção pelo olhar da autora. Abri a porta, olhei, absorvi o que é bom e depois saí e fechei a porta para voltar à minha realidade. A leitura de títulos não cristãos funciona assim. A meu ver, tudo pode ser aproveitado com uma boa mente e uma boa consciência.

O Próprio Cristo se Valia da Ficção

Você sabia que as parábolas são ficções? Sim! Jesus recorreu a histórias fictícias para pregar as boas novas. Parábolas são, simplesmente, histórias fictícias com ensinamentos morais e espirituais. Jesus, ao andar com os discípulos e entre a multidão, buscava uma forma de ensinar o evangelho de maneira clara, porque muitas das pessoas para as quais Ele pregava eram gente simples.

Ele contava histórias conhecidas como parábolas, usando elementos da cultura e geografia da época para explicar sua mensagem, dependendo do local e da circunstância em que os ouvintes se encontravam. Pense na conhecida parábola do filho pródigo, relatada em Lucas 15:11-32.

Aquela parábola realmente não aconteceu, mas serviu para mostrar as verdades do reino: a de um Pai amoroso e misericordioso que espera pelo filho, mesmo depois de todos os erros. O que Jesus fazia era transmitir seus ensinamentos de uma maneira tão acessível e poderosa que a mensagem se fixava de forma inesquecível na mente de quem o ouvia.

Muitos escritores hoje seguem o exemplo de Cristo ao escreverem histórias de ficção que revelam as verdades do reino. Um deles é o pastor e escritor Emilio Garofalo Neto, que escreve obras de ficção baseadas na Bíblia. Outro escritor mundialmente famoso é John Bunyan que escreveu o grande clássico “O Peregrino” onde conta a caminhada do personagem “cristão” até sua chegada na cidade celestial.

Que bom seria se muitos outros autores fizessem isso! Nós, cristãos que gostamos de escrever, temos a tendência de nos dedicar somente à teologia e nos esquecemos de glorificar a Deus por meio de outros tipos de escrita, como a ficção ou o romance. Precisamos, em nosso tempo, de mais C.S. Lewis e Tolkien e necessitamos também que cristãos verdadeiros se dediquem à leitura séria e profunda. Primeiro, da Palavra de Deus, e depois de outros bons livros que podem ensinar e fazer a mente produzir para a glória de Deus.

Leitura Recomendada

Se você se interessou pelo assunto, gostaria de deixar 5 links de livros que li recentemente e gostei.

O Peregrino de John Bunyan
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Trilogia O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien
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As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis
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Ester na Casa da Pérsia e a Vida Cristã no Exílio Secular de Emílio Garofalo Neto
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Frankenstein de Mary Shelley
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