Síndrome da Novidade

Como a Sabedoria Bíblica Nos Ajuda a Lidar com o Excesso de Informação

Você já refletiu sobre o quanto somos entusiastas da novidade? Diferente de nossos pais e avós, hoje vivemos em uma era na qual as informações chegam rapidamente até nós. O fluxo de informações constante e extremamente veloz, tem sido tanto uma bênção quanto uma maldição. Uma bênção para os negócios digitais, por exemplo, mas uma maldição devido ao excesso de engano e superficialidade.

O mundo das informações constantes exige também uma quantidade exorbitante de atualizações. Atualmente, acessamos grandes portais de notícias durante a manhã, lemos uma matéria e quando vamos revisar a notícia de tarde encontramos o mesmo texto com mudanças significativas. O leitor atento descobre que muitas vezes as fontes são distintas e até contraditórias! Além disso, há uma preocupante falta de comprometimento por parte do leitor em verificar a veracidade da informação. Tudo é facilmente compartilhável e, na maioria das vezes, superficial.

Infelizmente, nossa forma de lidar com as informações também mudou drasticamente. Há 25 ou 30 anos (e este artigo está sendo escrito em 2025), o acesso aos meios digitais era muito difícil. Quando eu era adolescente, foi um desafio conseguir o primeiro computador (desktop), que na época tinha ainda um monitor de tubo. Pela graça e providência de Deus, aquele PC foi a minha primeira ferramenta de estudo e entretenimento presenteada pelos meus pais.

O segundo objetivo, igualmente difícil, era acessar uma internet rápida e de qualidade, o que era quase inconcebível na época da conexão discada. O tempo foi passando e, de repente, veio a internet banda larga, o que facilitou o acesso. Não demorou muito para surgir as tão famosas lan houses onde você pagava pela hora de acesso. Finalmente, surgiram os primeiros smartphones e de repente os preços baixaram e a maioria das pessoas tinha um computador pessoal no bolso. Isso, de certa forma, democratizou o acesso à informação e foi um grande salto em direção ao futuro. Ou seria um “salto de fé” com consequências imprevistas, à la Assassin’s Creed?

A Síndrome da Novidade

Mas a história da informação no Brasil e no mundo não revela apenas virtudes. Da mesma forma que o acesso rápido a informações trouxe benefícios, também trouxe males. E um desses males é o que chamo aqui de Síndrome da Novidade.

Esse termo, apesar de não ser médico, caracteriza o tipo de pessoa que não consegue ficar em paz sem ter informações atualizadas constantemente. É uma forte preferência por coisas novas, que gera uma dificuldade em manter o interesse em algo por muito tempo. Falando sobre o assunto, o autor Brett McCracken em seu livro “A Pirâmide da Sabedoria”, ressalta que olhamos no mínimo 200 vezes por dia a tela de nossos smartphones – e isso para ser bem modesto. A quantidade de notificações que você recebe é intrinsecamente ligada a quantidade de aplicativos que você possuí, e eles são muitos. Além disso, há o bombardeamento de informações que recebemos diariamente, desde o momento em que acordamos até dormir. Isso torna o cérebro de algumas pessoas inconstante e sedento por novidades.

Foi pensando nisso que os desenvolvedores das redes sociais mais famosas, como Facebook, Instagram, TikTok, entre outras, mudaram o layout e os algoritmos de seus aplicativos. Hoje, se você abrir qualquer uma de suas redes sociais, verá que ela se comporta como um jogo de roleta, onde o objetivo é que você role o feed “ao infinito e além”. Isso faz com que seu cérebro se acostume somente com informações rápidas, mediante postagens muitas vezes supérfluas e vídeos curtos; é a adoração da novidade infinita.

Mary Shelley, ao escrever o romance Frankenstein, cita sobre o personagem Henry Crerval um comportamento muito parecido com a síndrome da novidade:

“Os sentimentos deste estão sempre no limite; e quando ele começa a se aclimatar ao descanso, vê-se obrigado a abandonar aquilo que lhe dá prazer em nome de uma coisa nova, que novamente domina sua atenção e que também é abandonado em nome de outas novidades”.

Não sei se foi de propósito, mas o personagem demonstra muito o modo como lidamos com a novidade. Mentes que estão sempre sendo forçadas a descobrir a nova notícia, a nova tendência ou a nova rede social do momento, sentem dificuldade em descansar e viver em contentamento. São os “Henrys Crervais” da atualidade.

Quantas vezes você já não pegou o seu celular e o que seria “só uma olhadinha” se tornou mais de uma hora de entretenimento, muitas vezes supérfluo e sem benefício algum? Ou quantas vezes já não acordou e a primeira coisa que procurou foi seu smartphone na escrivaninha?

A Raiz do Problema: Nosso Coração

Nosso comportamento com as informações mudou, e não precisamos de um estudo social para descobrir a causa disso. É claro que o trabalho dos sociólogos é importante, mas desejo ir mais a fundo. Biblicamente, o problema está em nosso coração. Segundo a Bíblia, o coração é o centro de nossos sentimentos e vontades; é o nosso ser, e dele procedem o que é mau e, consequentemente, também o que é bom.

“Pois do coração vêm os maus pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidade sexual, roubos, falsos testemunhos e calúnias.” (Mateus 15:19)

Segundo a Palavra de Deus, o coração é algo que devemos guardar acima de todas as coisas:

“Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele flui a vida.” (Provérbios 4:23)

E para fins do nosso estudo, o coração é enganoso mais do que todas as coisas:

“O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e incurável; quem o pode conhecer?” (Jeremias 17:9)

É devido a nosso coração enganoso que estamos suscetíveis aos males dessa era da informação. E não estou demonizando a informação em si; apenas estou dizendo que devemos lidar bem com o que recebemos, senão caímos em várias armadilhas. Satanás, o inimigo de nossas almas, sabe usar bem a mídia para enganar e manipular. (2 Coríntios 4:4).

A Solução: Sabedoria e Reflexão

Para isso acontecer, temos que ter sabedoria, e o tipo de sabedoria que devemos ter é aquele que vem de Deus. O Criador deixou a sabedoria disponível para nós:

“Porque o Senhor dá a sabedoria; de sua boca vem o conhecimento e o entendimento.” (Provérbios 2:6)

A sabedoria é algo que Ele dá a quem pede: “Se, porém, algum de vocês tem falta de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá liberalmente e sem repreensão alguma, e ser-lhe-á concedida.” (Tiago 1:5). A sabedoria bíblica nos ensina a lidar com o mundo ao nosso redor e a refletir sobre tudo que recebemos.

E a frase chave para o entendimento desse assunto é essa: reflexão. Segundo o dicionário Aurélio, reflexão é o ato de refletir, ou seja, pensar cuidadosamente sobre algo, ponderar, meditar. O problema atual é que recebemos tanta informação que não dá tempo de ponderar quase nada. Só recebemos e atualizamos sempre nosso cérebro com informação, como se fosse um sistema operacional de computador com suas notificações a todo momento. Cada “barulhinho” do WhatsApp, Facebook ou qualquer outra rede é um convite para nossa atualização, e ai de nós se chegarmos no trabalho no outro dia de manhã sem saber das últimas notícias. Somos tratados como pessoas desatualizadas e desinformadas.

Fazendo da Palavra de Deus a Nossa Bússola

A solução para isso é fazer da Palavra de Deus a bússola da nossa vida. Ela é o centro, e com ela iremos aprender a viver bem com a tonelada de informações diárias. É importante mudar a nossa rotina com as informações e só assimilar o que é realmente necessário. No mundo de informação de hoje, há muita coisa que é “lixo”, e você deve aprender a escolher.

Uma pergunta que sempre faço ao assimilar uma notícia ou até mesmo escolher um filme, ou série para os momentos de lazer é: “Será que posso agradecer a Deus por isso?” Pratique isso, e você verá que essa pergunta vai afunilar a sua seleção de informações e entretenimento. Nós cristãos temos a mente de Cristo e devemos viver para honrar e glorificar o nome do nosso Senhor. Passe as informações que você recebe diariamente pelo filtro da Palavra de Deus.

 

Esse artigo foi escrito baseado no livro “A Pirâmide da Sabedoria” de Brett McCracken. Se você deseja saber mais sobre o assunto, indico o livro do Brett e também o livro “A Guerra dos Epetáculos” de Tony Reinke:

Acredito que esses recursos podem aprofundar ainda mais sua compreensão sobre como navegar na era da informação com sabedoria e discernimento bíblico.