Pregação Contextualizada
Pregar o evangelho para uma igreja é um desafio que exige estudo, oração e preparo. Um fator crucial é a contextualização. Não se trata apenas do contexto bíblico, mas do contexto do público. Como a mensagem da Bíblia se conecta com as pessoas que ouvem? Afinal, todo ouvinte está imerso em seu próprio cenário social, econômico e histórico. Como John Stott, em Eu Creio na Pregação, destaca, o pregador deve criar uma ponte entre o texto bíblico e a realidade do público. Ele compara isso a um arqueiro: a corda do arco precisa estar firmemente apoiada tanto na Bíblia quanto no mundo contemporâneo para que a flecha da mensagem atinja o alvo.
A Importância da Pregação Contextualizada
É fundamental que todo pregador leve em consideração o mundo moderno ao preparar seus sermões. Tim Keller aponta a contextualização da mensagem como um grande desafio. Nosso objetivo principal é glorificar o nome de Cristo, e isso só é possível quando realmente entendemos as pessoas e o ambiente ao nosso redor. Contextualizar, como René Padilha descreve em A Pregação como Arte, é “transportar a mensagem do seu cenário original ao cenário dos leitores contemporâneos, a fim de produzir nestes o mesmo impacto que produziu naqueles”.
Infelizmente, alguns pregadores “voam tão alto” que a mensagem se torna inatingível para os ouvintes. Outros “voam tão baixo” que perdem a relevância bíblica e espiritual. Como, então, pastores e líderes leigos podem honrar a Cristo de forma relevante para o contexto atual?
Ouça Atentamente as Pessoas
Parece simples, mas ouvir é uma parte essencial do trabalho do pregador, tão importante quanto falar. Pastores precisam ser acessíveis aos membros da congregação. Em nossa igreja em Guaratinguetá, por exemplo, o pastor se coloca à disposição da comunidade para conversas, o que permite que ele se inteire dos problemas e dúvidas dos membros. Assim, ele pode responder a essas questões diretamente do púlpito. A conhecida frase “pastor tem que ter cheiro de ovelha” é, em minha opinião, uma grande verdade. Quando ouvimos as pessoas com a Bíblia na mão, a contextualização naturalmente acontece.
Grant R. Osborne, em A Espiral Hermenêutica, afirma: “Uma contextualização adequada levará o pregador/professor a tornar-se prático e específico. A aplicação não será árida ou carregada de clichês, mas se ajustará às necessidades específicas do povo, sugerindo formas de fazer o texto significativo nas situações concretas enfrentadas nos dias que se seguirão”. Isso não é incrível? Precisamos que a Palavra de Deus se ajuste à nossa vida, moldando-nos à vontade do Altíssimo. É a união da Palavra com a experiência diária das pessoas.
Interprete o Mundo ao Seu Redor
Pregamos o evangelho para um mundo imerso no pecado e na rebeldia contra Deus. Além de ouvir, o pregador deve interpretar o mundo para glorificar a Jesus Cristo. O mundo de hoje é muito diferente dos tempos de Paulo de Tarso, Agostinho, Spurgeon ou John Wesley. A cultura evolui, novas profissões surgem, novas religiões aparecem e novas formas de pensar nascem. No entanto, uma coisa permanece constante: a Palavra de Deus. (Mt 24:35).
É importante ressaltar que a contextualização da mensagem não significa colocar o mundo acima da mensagem bíblica. A Bíblia sempre será o molde, e o mundo deve se ajustar a ela. Pregadores devem contextualizar a Bíblia para o mundo, mas sem ceder a ele. A Bíblia é e sempre será central, e o mundo deve ouvi-la na posição de aprendiz.
Como, então, podemos interpretar o mundo para pregar melhor? Karl Barth, teólogo protestante do século XX, aconselhava: “É preciso segurar numa mão a Bíblia e na outra o jornal”. Isso significa que o pregador deve estar bem informado sobre os acontecimentos do dia a dia. Pregadores das duas Grandes Guerras, por exemplo, aplicavam seus sermões à realidade da época, confortando famílias enlutadas e respondendo a questões sobre o conflito.
É benéfico para o pregador ler jornais, assistir noticiários e estar por dentro do que acontece na mídia (filmes, teatro, eventos), sempre com discernimento e conforme a ética e a moral cristã.
A Base Bíblica da Contextualização
Mas será que essa abordagem de contextualizar a mensagem é bíblica? Sim! E devemos ser gratos por isso. Poderíamos citar vários exemplos da igreja antiga, mas focaremos no apóstolo Paulo. Ele era mestre em contextualizar. Inteligentíssimo, Paulo usava a argumentação para adaptar sua mensagem ao público.
Sua pregação, exemplificada em diversas passagens bíblicas, demonstrava sua habilidade de ajustar o conteúdo. Em Atenas, por exemplo, ele dialogou com a cultura local, usando o altar ao “deus desconhecido” como ponto de partida para apresentar o evangelho (At 17:16-34). A mensagem de Paulo variava conforme o público: para judeus, ele falava do Messias; para gentios, ele abordava temas como a criação e o vazio existencial. Ele era sensível à sua audiência, pregando tanto para crentes quanto para descrentes, sempre visando levar as pessoas ao conhecimento de Cristo.
Construindo Pontes Com a Pregação
A pregação deve ser uma construtora de pontes. É crucial ter sensibilidade para não ir além da compreensão da congregação. Em uma igreja, há pessoas de diferentes níveis de estudo e simplicidade. Seu papel como pastor e pregador é ministrar a Palavra de forma que alcance a todos. Por isso, conhecer bem a congregação que você pastoreia é fundamental.
Quando isso acontece, as pessoas começam a perceber que a Bíblia tem as respostas para suas maiores questões. Além disso, os membros passarão a valorizar mais a Bíblia, e haverá sempre um ambiente de empolgação antes de cada sermão dominical.
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