O Deus que ama o estrangeiro

O Deus que ama o estrangeiro: uma história de fé, provisão e milagre

A Bíblia está repleta de histórias que nos mostram o cuidado de Deus por pessoas inesperadas. A narrativa de 1 Reis 17:8-16 é um desses tesouros, que nos apresenta o profeta Elias e a viúva de Sarepta. Este relato vai muito além de um milagre de multiplicação; ele revela um Deus que opera contra toda a lógica humana e se importa profundamente com quem o mundo despreza.

 

O contexto: um cenário de apostasia

A história de Elias se desenrola em um período sombrio para o povo de Israel. Após a divisão do reino, o reino do Norte se afastou de Deus, mergulhando na idolatria. Sob o reinado do perverso rei Acabe e sua esposa, Jezabel, a adoração a falsos deuses, como Baal (o deus da chuva e da prosperidade), se tornou generalizada. A corrupção e a mentira dominavam a nação.

No entanto, a Bíblia nos mostra que Deus nunca fica sem testemunho. Em meio à apostasia, Ele levanta um homem simples, de um lugar obscuro chamado Tisbe: Elias, cujo nome significa “O Senhor é meu Deus”. Deus não precisa de status, renome ou família importante. Ele precisa apenas de um coração fiel, zeloso e que proclame a verdade.

Elias se apresenta a Acabe com uma profecia impactante: “Vive o Senhor, teu Deus, em cuja presença estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão pela minha palavra.” Essa declaração não apenas anuncia a escassez, mas também destrona o falso deus Baal, mostrando que o controle da chuva pertence apenas ao Senhor.

O deserto de Querite e a obediência inesperada

Após a profecia, Deus ordena a Elias que se esconda junto ao ribeiro de Querite. Aparentemente ilógica, essa ordem era uma preparação. No deserto, Deus providenciaria o sustento de Elias de forma miraculosa, usando corvos – animais considerados impuros – para levar-lhe pão e carne duas vezes ao dia. O deserto é um lugar de poda, onde Deus age em nós antes de agir através de nós. Assim como o agricultor poda a videira para que ela dê mais frutos (João 15:1-2), Deus nos leva a lugares de solidão para nos refinar.

O ribeiro de Querite, no entanto, secou. E, mais uma vez, Deus dá uma ordem que desafia a compreensão humana: “Levanta-te, e vai a Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente” (1 Reis 17:9). Sarepta era uma terra estrangeira, localizada em Sidom, o berço de Jezabel e da adoração a Baal. Deus estava enviando seu profeta para o território inimigo, para se esconder no local mais improvável.

 

A viúva de Sarepta: a lógica de Deus

A lógica humana diria para Deus enviar Elias para um lugar seguro, para a casa de alguém rico ou influente em Israel. Mas o Deus que amou o estrangeiro se revela na contramão de tudo isso. Ele o envia a Sarepta e o sustenta através de uma mulher:

  • Estrangeira: Alguém que não pertencia ao povo de Israel.
  • Mulher: Alguém que, na sociedade da época, tinha pouco valor.
  • Viúva: Alguém que estava no ponto mais vulnerável, sem provisão e sem proteção.

Mas Deus se agrada do que o mundo despreza. Ele “faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e veste” (Deuteronômio 10:18).

Ao chegar em Sarepta, Elias encontra a viúva juntando lenha. Mesmo com o “quase nada” que lhe restava, ela não havia parado de lutar. Ela estava se preparando para a última refeição dela e de seu filho, um punhado de farinha e um pouco de azeite. Sua situação era de desespero extremo.

Elias, então, faz um pedido que poderia parecer insensível: “Faze disso primeiro para mim um bolo pequeno e traze-mo para fora; depois, farás para ti e para teu filho.” Esse pedido não era uma prova de egoísmo, mas de fé. Elias estava pedindo que ela colocasse Deus em primeiro lugar. O milagre só se manifesta na vida de quem está disposto a entregar a Deus a sua primícia, não apenas as sobras.

A mulher, em um ato de profunda fé, obedece. E o milagre acontece: “A farinha da panela não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até ao dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra” (1 Reis 17:14). Por muitos dias, a provisão se manifestou, garantindo o sustento de todos.

 

O milagre completo: da despensa à vida

A história não termina com a multiplicação. Deus não se preocupa apenas com o físico, mas também com o espiritual. Mais tarde, o filho da viúva morre. A dor da perda a leva a culpar Elias, mas o profeta o toma em seus braços e o leva para o quarto. Lá, ele clama ao Senhor, e o menino é ressuscitado.

Nesse momento, o milagre que parecia ser apenas na despensa se revela por completo. A viúva, que antes conhecia o Senhor por um milagre de provisão, agora O conhece como o Deus da vida. Ela exclama: “Nisto conheço agora que és homem de Deus, e que a palavra da tua boca é a verdade” (1 Reis 17:24).

Deus marcou um encontro com a estrangeira. Ele foi à casa dela não apenas para sustentar, mas para salvar. A lição de Sarepta é eterna: o Senhor, em sua infinita misericórdia, se importa com quem o mundo rejeita. Ele tem um propósito para os que se sentem no “quase nada”, e sua provisão vai além do material, alcançando a nossa alma.

Hoje, Jesus, o Salvador, ainda está operando. Ele pode fazer um milagre não apenas na sua despensa, mas na sua vida por completo. Ele é o Deus que ama, provê e salva, e está pronto para mudar a sua história.