Hoje é uma tarde ensolarada de uma quarta-feira aqui em Guaratinguetá. Pela graça de Deus é dia de folga e nesses dias sempre procuro um tempo de qualidade com a família. O itinerário de hoje foi o seguinte: tomar um bom café (sem açúcar), sair para o parque ecológico da cidade e depois almoçar. Depois do almoço, em um lugar que não conhecíamos, experimentamos uma refeição maravilhosa. Ao terminar, olhei para minha esposa e filhos e perguntei: “Estão satisfeitos”? Essa é a pergunta que a maioria das pessoas faz ou ouve após uma refeição. Em outras palavras, eu quis saber se eles estavam contentes e satisfeitos. A resposta de ambos foi sim.
Ao chegar em casa e olhar o cronograma de conteúdos do blog, resolvi abandonar o planejamento e escrever sobre contentamento. Aliás, nós somos cristãos e sendo assim, somos o povo do contentamento correto? Aliás, quantas vezes você já ouviu uma pregação ou ensino sobre contentamento? Será que o entendimento desse tema gera alguma diferença em nossa vida?
Definindo Contentamento
Contentamento é estar bem e satisfeito com a sua condição atual, com o que se tem ou com a situação que se apresenta, sem ansiedade ou necessidade constante de algo mais. A Bíblia também nos ensina muito sobre contentamento, principalmente através do ensino do apóstolo Paulo. Deus se importa com a nossa satisfação e alegria e é na palavra de Deus que aprendemos sobre isso. Ter contentamento é ter paz em toda e qualquer situação. Mas como encontrar paz, satisfação e alegria se nossa vida é tão adversa?
Convenhamos, nossa vida muitas vezes parece mais um mar bravio do que um campo de flores. A todo momento estamos em guerra contra o pecado, a carne e o diabo. Então, como ter contentamento e não murmurar? Como viver dignamente o evangelho? Pela graça de Deus, temos resposta para essas e muitas outras perguntas.
A Resposta está no Evangelho
Certa vez um irmão me perguntou: “Porque você fala tanto sobre o evangelho”?. Fiz uma cara de espanto e respondi: “Porque o evangelho é o que há de mais precioso em nossa fé”. Sim! Crer em Cristo é como encontrar uma pérola de grande valor (Mt 13:45-46), é encontrar um tesouro precioso. Então, tudo começa e termina com o evangelho. Sendo assim, nossas questões iniciais a respeito do contentamento também são devidamente respondidas pelo evangelho. Olhe o que Paulo disse aos Coríntios sobre a boa nova:
Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e no qual estão firmes.
1 Coríntios 15:1 (NVI)
Para o apóstolo, o evangelho era tão importante que a igreja de Corinto precisava se lembrar. Era uma palavra tão bela e uma notícia tão avassaladora e mesmo assim eles precisavam trazer a mente aquelas verdades. Isso não aconteceu à toa. Paulo não está sendo chato ou taxativo. Ele está somente ensinando que no meio de nossas lutas e guerras somos tentados a nos afastar da mensagem pela qual um dia fomos salvos e é aí que descobrimos se temos ou não vivido em contentamento.
Você se lembra do evangelho? Lembra da palavra pela qual foi salvo? Paulo ensina no verso 2 que devemos não somente nos lembrar, mas nos apegar a essa verdade:
Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão.
1 Coríntios 15:2 (NVI)
Aqui existe uma condição. A palavra do evangelho foi pregada por Paulo e aqueles crentes precisavam se apegar e ela. Deveriam segurar com mãos firmes naquela mensagem. Os crentes que não estavam apegados à palavra, segundo Paulo, poderiam ter crido em vão. A mensagem do evangelho é a mensagem do contentamento. O evangelho que nos foi dado por Deus nos ensina a estar contentes e satisfeitos em qualquer situação ou circunstância. Isso é importante porque toda satisfação e contentamento tem um alvo ou objeto. Todo estado de contentamento deságua em algo ou alguém. Nesse caso, estamos satisfeitos e contentes em Cristo, o autor da nossa fé. (Hb 12:2). Semelhantemente, nosso estado de contentamento tem uma fonte e essa fonte também é Cristo.
Vejamos mais do ensino bíblico sobre contentamento. Aqui separei três passagens que nos saltam aos olhos quando estudamos sobre o tema. Duas do apóstolo Paulo e uma de autoria desconhecida.
Contentamento e Aprendizado
¹¹ Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância.
¹² Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.
¹³ Tudo posso naquele que me fortalece.Filipenses 4:11-13 (NVI)
Contentamento é uma virtude que deve ser aprendida. Ninguém vive em contentamento de forma automática. Segundo Paulo, o coração do cristão precisa de adaptar a toda e qualquer situação devido ao evangelho. Segundo o versículo 11, se adaptar (contentar) a toda e qualquer circunstância foi algo que Paulo teve que aprender.
A palavra “aprender” indica um processo de crescimento e amadurecimento espiritual. Isso na ensina que não é nada fácil e nem que acontece da noite para o dia, pois o aprendizado de todo cristão é progressivo. Em Provérbios, por exemplo, que faz parte da literatura sapiencial do Antigo Testamento, a sabedoria e entendimento são conquistados por meio de aprendizado (experiência de vida e instrução divina).
Paulo, “aprendeu o segredo de viver contente” e ele aplicava isso a toda e qualquer situação. Em seu discurso sobre contentamento, Paulo fala um dos versículos mais conhecidos no meio cristão: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Paulo podia passar por todas aquelas bençãos ou aflições porque Cristo o fortalecia para aquelas circunstâncias.
Contentamento e Piedade
⁶ De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro,
⁷ pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar;
⁸ por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.1 Timóteo 6:6-8
Para Paulo, piedade e contentamento são duas virtudes que andam juntas. Aqui, Paulo esta escrevendo a Timóteo e no mundo greco-romano onde Timóteo pregava, várias religiões e filosofias ofereciam caminhos para uma vida virtuosa. No entanto, Paulo enfatiza que a verdadeira piedade está enraizada em uma vida de relacionamento piedoso com Deus e com a igreja.
A união da piedade com contentamento se transforma em “fonte de lucro” segundo Paulo. O apóstolo fala aqui sobre um grande ganho espiritual que contrastava com o ambiente onde Timóteo pregava onde havia uma forte ênfase no comércio e acumulação de riquezas. Enquanto as pessoas daquela época buscavam riqueza mundana e bens materiais, os cristãos deveriam buscar e vida de piedade e contentamento através do evangelho.
O término do argumento do apóstolo parece ser um ataque ao modelo de vida consumista moderno. No versículo 7, Paulo coloca uma lupa diante da verdade de que não trouxemos nada para este mundo e nada levaremos dele. Esse versículo ecoa a verdade de Gênesis de que somos pó e ao pó voltaremos. (Gn 3:19).
Por fim, comida e vestimenta são duas bençãos que Deus nos dá nas quais devemos estar satisfeitos. As demais coisas nos são acrescentadas conforme o ensinamento do Senhor Jesus Cristo. (Mt 6:33). Devemos ter fé para entender e viver dessa forma.
Um Antídoto contra a Avareza
5 Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”.
Hebreus 13:5 (NVI)
Não sabemos quem escreveu a carta aos Hebreus, mas, alguns estudiosos dizem que pode ter sido Paulo. Se foi, não sabemos, mas o ensino desse verso parece bem contundente com o ensinamento de Paulo sobre contentamento.
Para o autor de Hebreus, o contentamento funciona como antídoto para a avareza. Avareza é amor ao dinheiro. É quando tornamos do dinheiro o nosso ídolo. Jesus em seu ensino advertiu várias vezes seus discípulos sobre a avareza. Uma das passagens diz o seguinte:
²⁴ “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.
Mateus 6:24 (NVI)
Em outras traduções, a palavra “dinheiro” nesse verso foi traduzida como Mamon. Em contextos medievais, Mamon foi personificado como um demônio ou divindade maligna associada à corrupção, à cobiça e ao pecado da avareza. Assim, descobrimos que o “dinheiro” muitas vezes é um deus que rivaliza com Cristo. Sempre que colocamos o dinheiro e coisas materiais acima do Deus verdadeiro, cometemos o pecado da avareza.
Voltando ao texto de Hebreus, o autor explica que devemos se conservar livres do pecado da avareza. E como fazemos isso? Primeiramente ele explica que devemos nos contentar com o que temos. Isso parece refletir o ensino de Paulo. Em segundo lugar, devemos confiar em Deus, pois ele mesmo disse: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei”. Esse verso elucida uma questão crucial para todo cristão que quer entender sobre contentamento.
Essa promessa de Deus se baseia naquilo que ele havia dito em Deuteronômio 31:6-8 e Josué 1:5. Vejamos:
⁶ Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem fiquem apavorados por causa deles, pois o Senhor, o seu Deus, vai com vocês; nunca os deixará, nunca os abandonará“.
⁷ Então Moisés convocou Josué e lhe disse na presença de todo o Israel: “Seja forte e corajoso, pois você irá com este povo para a terra que o Senhor jurou aos seus antepassados que lhes daria, e você a repartirá entre eles como herança.
⁸ O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não se desanime! ”Deuteronômio 31:6-8 (NVI)
⁵ Ninguém conseguirá resistir a você, todos os dias da sua vida. Assim como estive com Moisés, estarei com você; nunca o deixarei, nunca o abandonarei.
Josué 1:5 (NVI)
Não por um acaso, a luta dos israelitas ao entrarem na terra prometida era de fato a luta contra a avareza. Eles estavam diante do caminho fácil e difícil. Era uma encruzilhada na qual eles deveriam escolher servir a Deus e receber a herança da terra, ou servir os deuses dos povos inimigos e experimentar uma falsa paz. Naturalmente falando, era muito mais fácil se unir com os outros povos e desobedecer às ordens de Deus, até mesmo porque o que Deus requeria deles, eles julgavam como pesado demais. Em contraste, se eles escolhessem seguir a Deus, receberiam a terra como promessa, mas isso envolvia luta e guerra. Descobrimos então que avareza é questão de escolhermos um senhorio sobre nossas vidas: Ou Jesus, ou Mamom.
O texto termina respondendo perguntas que vêm sempre a mente quando pensamos sobre contentamento. Aliás, por que devemos estar contentes e satisfeitos mesmo em situações perigosas e adversas? A resposta é que Deus não nos deixa nem nos abandona. O melhor arma para vencer a avareza é o contentamento baseado na confiança que temos em Deus e nas promessas que ele fez através da Escritura.
O dinheiro nos desampara, Mamon é um deus ruim, mas, Cristo nunca nos desampara e nunca nos deixa. Que possamos nos apoiar, na verdade do evangelho, vencendo a avareza e vivendo contentes e satisfeitos em Cristo Jesus, nosso Senhor.